segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

NOITE IMPASSÍVEL

Noite Impassível
Alheios às horas, meus olhos madrugam Enquanto eu me escoro – por uns minutos Num tempo que não volta e que não vai É como quem ora, sendo mudo A um Deus que se faz de surdo Pra não ser rogado como pai E a noite esvai – impassível Não escuta os ais que profiro No sigilo quebrado em meu olhar Se eu soubesse rezar, faria um pedido Que este silêncio fosse menos dorido E a noite ninasse o meu dormitar Ivone Alves SOL

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

CANÇÃO PRA DEUS ESCUTAR

CANÇÃO PRA DEUS ESCUTAR
Eu posso tocar os pés no céu
No entrelaço de nossas mãos
Fazer um carinho em Deus
Compor pra Ele uma canção
Posso fazer de Zeus meu Eros
Andar de escaler na constelação
Fazer torres d’água firmar impérios
Se eu puder reinar em teu coração
Mas se não puder ter as tuas mãos
E em teu coração eu não puder reinar
Nem Zeus nem Eros, me convencerão
A fazer canção pra Deus escutar
Ivone Alves SOL

TANTAS

TANTAS
De tanto saber-me tantas
Não sei quantas almas tenho
Há umas que me acompanham
Outras se vão quando eu venho
Queria saber com que alma choro
Para abraçá-la e fazê-la ri
Mas sou tantas que nem me olho
E se me olho não estou aqui.
De tanto ser tantas
Eu não sei quem sou...
Estou em mim e sou estranha
Sou alma sem corpo condutor
E por todas eu vivo
Sem nunca me ter
Se não vivo, eu arrisco
Corro todos os riscos
Pra não deixá-las morrer
Ivone Alves SOL

UM SHOW A PARTE

UM SHOW À PARTE
E na parte que me toca,
Essa tua parte, eu sinto
Que sou a parte inteira,
Da partitura em negrito
Meu grito suave, na clave
Música em câmara lenta...
Sons de toques polifônicos,
Mixagem que me ostenta
Em teus toques, invento
Faço do pensamento, arte
Sou das letras, movimento
Parte de um show à parte
E na parte que eu te toco
Eu me mostro – tu sentes...
Ivone Alves SOL

PARA ALÉM DE NÓS

PARA ALÉM DE NÓS
Para além de nós... Uma janela aberta para o mundo. Nele, tudo que está. Minha conivência com a paisagem esvaída do não-descoberto. “Para além...” certamente é muito longe de olhos de ver, de ouvidos de escutar. (Diga, apenas — depois — em sussurro). Para além... certamente é distante, e o viver tão incerto. (Diga, apenas — talvez — em voz mansa, não afirme). Para além de nós: não, não posso dizer assim. Que um homem “é estar aqui e agora, cada qual no seu tempo”. Maria Lúcia Martins (In: A condição de Pégaso. Espaço Perplexo. Salvador: As Letras da Bahia, 2002
ALÉM DA JANELA
Além da janela... Um céu
Acobertado por lençóis
Uma paisagem a ser vista
No ignorado além de nós
Mas aqui dentro é tão longe!
O céu se dispersa lá fora...
Até o que ouço some, na memória
De perto, tudo é incerto...
O depois – Eu não alcancei!
E agora – Também não sei.
Além da janela... Nós!
Totalmente envoltos aos lençóis,
Que nos autoprotegem, de viver!
Ivone Alves SOL
Inspirado no texto da Maria Lúcia Martins.
Ressalto que tive a honra de ser autorizada pela autora, pessoalmente e, de forma espontânea, a postar suas obras em minha página. Sou-lhe muita grata, pois sou fã de seus escritos e, agora, de sua pessoa. P.S. Para quem não conhece, é essa figura linda que está comigo na foto Maria Lúcia Martins é poeta, ficcionista, educadora, filósofa, psicanalista e possui 12 títulos publicados. Baiana da região de Jequié. Licenciada em Filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ em 1976, especialista em Educação Matemática e em Epistemologia Genética da Aprendizagem. É cofundadora da Sociedade Brasileira de Educação Matemática, no Rio de janeiro. Foi expert da UNESCO com atividades em Angola e em Paris. Conheça mais da autora em seu blog: http://antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/bahia/maria_lucia_martins.html Comentário de Maria Lúcia, por e-mail: De: Maria Lucia ((...) @oi.com.br) Enviada: quinta-feira, 8 de outubro de 2009 21:37:56 Para: Soll Dantas (sol35dantas@hotmail Parabens, Soll , siga para além de nós, menina poeta! abraço afeto, Lúcia

NAS ALTURAS DA NOITE

NAS ALTURAS DA NOITE
Tudo é tangível nas alturas da noite
Os sonhos tocam o céu e espargem
Livre, a alma divaga entre as cores
Pincelando o que encontra nos ares
E o poeta levita em sua miragem
Tão leve como plumas ao vento
Dança, abraçado a uma imagem
Emoldurada em seu pensamento
A vida é legível nas linhas da noite
Marcas do cerne são nelas explicitas
Em versos de cânticos e clamores
O poeta é audível nas noites da vida
Ivone Alves SOL

TU

TU
Tu que vieste de onde eu não fui,
Buscaste-me onde eu não estava...
Trouxeste-me para ti enquanto eu andava,
E me mostraste que eu posso seguir.
Decerto eu ainda me perco,
Não há garantia em meu caminho.
Não sei o que há além da curva,
Mas vou aonde quer o destino.
E, se tu, que hoje seguras minha mão,
Que me viste em minha escuridão,
Caminhares comigo, eu irei até o ocaso,
Pedir por nosso amanhã...
Ivone Alves SOL

AZUL

ProvocAÇÃO



ProvocAÇÃO


Cubro-me de pétalas de sol,
Absorvo o bálsamo da aurora!
Serei, do dia, a aura do arrebol,
Adormecerei os ventos de outrora!


Ascenderei ao outeiro mais alto...
O paço dos deuses será minha tenda.
- Eles serão meus vassalos...
Até que me ouçam, até que me atendam!

 Hoje eu sou sol a flor da pele,
Com pétalas amotinadas – aladas...
Sou o perfume e o que fede,
Sou o que grita quando cala!


Sou a calor que derrete a nuvem,
O corpo cáustico nas geleiras...
Pairo com as asas da altitude,
Enquanto resvalo na ribanceira!


E não seja improfícuo, o meu arremesso,
Diante dos deuses, aos quais, desafio.
Posto que eu tenha acesso aos segredos,
Tácitos em preceitos que repudio!


Ivone Alves SOL