Crônicas


JUSTIÇA FEITA OU EGOS INFLADOS?
Por Ivone Alves Sol
Publicada no Jornal Tribuna de Petrópolis em 03/12/2013



      "A Justiça começa a se fazer", (Fernando Henrique Cardoso). Isso mesmo, palavras do ex-presidente FHC, ao se referir à prisão dos mensaleiros. Teria ele condições de falar de justiça com tanta propriedade? Bem, isso não é o que mais me inquieta neste momento, o que me impressiona é ver como tudo em nosso país se torna um grande espetáculo. Como tendem a se tornarem heroicas, atitudes que poderiam ser normais, e seriam se não fossem as conveniências. O “herói” dessa vez é o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Aquele que “libertará o Brasil da corrupção”- como li várias vezes nas Redes Sociais. Ah, se fosse simples assim, se a corrupção se originasse, propagasse e terminasse no Congresso! Mas não é não. A corrupção não tem ponto de origem e sequer está no caminho do fim.
    A prisão dos mensaleiros, principalmente dos Josés, Dirceu e Genoíno, para uns é tida como um marco na história política nacional e, para os políticos de oposição, uma lavação de alma.  O certo é que, o que mais existem, são egos inflados. A começar pelo próprio Presidente do Supremo. Na pratica, não acredito em grandes mudanças, muito menos que a prisão seja a ação mais adequada nestes casos.
     Não sou especialista em política partidária, sequer sou filiado a um Partido, mas creio que algumas alternativas para se punir um político corrupto, são torna-lo inelegível, obriga-lo à restituição de tudo que fora utilizado ilegalmente e destituí-lo de todos benefícios agregados ao seu cargo, principalmente o salário.  Tenho certeza que estas ações, aliadas ao fato de constar em sua história o rótulo de corrupto, lhe serviriam com lições muito mais eficazes. 
    Ainda assim, seriam apenas os primeiros passos de uma grande escalada, pois a corrupção é muito mais abrangente e, como dizem popularmente, “o buraco é bem mais embaixo”. São nos campos menores que essa praga se desenvolve e se fortalece. São também nesses setores, onde ela mais passa despercebida, até por uma questão de conveniência, do Poder Público e dos cidadãos. Na maioria das vezes, depende do benefício e do beneficiado. Sem contar, que seu combate não renderia um grande espetáculo, nem precisaria de um grande herói. 



Imagem do Google


Eventos tão distintos quanto mal relacionados.


     Estamos vivendo dois grandes momentos no Brasil e muitas especulações a respeito. Primeiro, um período em que o país se prepara para receber sucessivamente as três maiores competições mundiais: a Copa das Confederações, já realizada e, com êxito para o Brasil; a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas de 2016. O segundo trata-se das manifestações realizadas em todo o país, onde a sociedade civil reivindica direitos, cobra justiça e transparências do poder público.

    São dois eventos diferentes, é claro. Cada um tem sua relevância e não me proponho, aqui, discutir qual o mais importante, acredito já estar claro para todos os brasileiros. O    que me inquieta neste momento, é como os fatos são distorcidos, como as opiniões são absolutas, como todo o povo brasileiro é representado por alguns. Os protestos sucedem num momento muito oportuno, já que não somos ouvidos no Brasil, vale a pena chamar atenção do mundo, num período em que todas as atenções se voltam para nosso país, justamente por conta dos eventos esportivos.

     O povo consciente que vai para as ruas, certamente, não está contra as realizações das competições, basta avaliar as lotações dos estádios. Não são alienados que estão lá, muitos deles são cidadãos politizados, que sabem muito bem separar os fatos. O que a sociedade não aceita é o superfaturamento na construção e realização dos eventos, e o descaço com outras necessidades, as imprescindíveis, como saúde, educação, segurança, mobilidade...

     Hoje o Brasil consagra-se campeão da Copa das Confederações e a maioria dos Brasileiros festeja. Muitos deles estarão amanhã nos protestos, quiçá, com mais força para lutar e mais orgulho de ser brasileiro.

Ivone Alves Sol



Desconheço a autoria da imagem.


Sociedade Desigual


    Desde que comecei a compreender e, de certa forma, interagir com questões coletivas, que ouço e leio sobre igualdade social. Quiçá por isso, esse tema tenha me levado a uma série de questionamentos, com réplicas bem diferentes das costumeiras.

    Não consigo assimilar, até hoje, as políticas que discutem questões relacionadas a igualdade na condição social do individuo em geral. Para começar, a expressão igualdade só existe para reforçar as diferenças. Não existe nada que possa ser visto ou tratado de forma igual. Até quando se iguala numa disputa, existem critérios de desempate, onde é observada uma série de diferenças. A única coincidência que existe entre nós é o fato de sermos diferentes. Logo, é dentro dessa perspectiva que devemos nos trabalhar para vivermos em harmonia.

    Tomemos como base os artigos I e III da Declaração Universal dos Direitos Humanos que, para mim, resumem todos os outros. O primeiro diz “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. O terceiro acrescenta, completando o que precisamos compreender para nos harmonizarmos dentro desse universo lindamente contrastado, pelo ser humano: “Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.

    Ora, se somos dotadas de razão e consciência, de modo a compreender que só existe a igualdade de direitos e que estes independem de cor, sexo, religião, ou de qualquer natureza social, deveríamos saber que as diferenças sempre vão existir. Cada um de nós tem suas razões para ter razão e, é aí que se deve fazer uso daquela conduta que é imprescindível para fazer valer o nosso direito: o respeito ao direito do outro.

    Jamais conseguiremos montar o mosaico da humanidade, colocando somente as peças que consideramos corretas, pelos simples fato de serem retangulares ou quadradas, brancas ou pretas, dessa ou daquela forma. As peças de um mosaico são igualmente diferentes, mas todas se encaixam resultando num belo painel.

    Assim é a nossa sociedade, desigual. Constituída e embelezada pelos diferentes jeitos de ser, pensar e agir. Se soubermos respeitar o espaço de cada um, teremos um mosaico homogêneo sem alterar suas formas e suas cores.  

Ivone Alves Sol






A CHUVA É NATURAL, AS CATÁSTROFES NÃO!

     Diante do atual estado de calamidade causado pelas chuvas na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, uma situação, aliás, já sofrida por tantas outras cidades de estados brasileiros, vem as especulações costumeiras desses momentos: a culpa é do governo, é do órgão fiscalizador, é desta e daquela pessoa. Ainda há aqueles que dizem serem os “sinais do fim dos tempos”.
            Obviamente, não existe uma política pública que atenda, de fato, a essa demanda. Também vale ressaltar que a estrutura geográfica de cidades como a de Petrópolis, facilitam as catástrofes. Entretanto existe um vilão ainda pouco discutido nesses momentos e, porque não dizer, no dia a dia: O lixo descartado nas ruas, nos córregos e em tantas outras partes, sem nenhuma consciência do mal ocasionado.
          O fato de o município de Petrópolis está sobre e entre serras, o deixa vulnerável às tempestades ocasionais. Além disso, é uma região cortada por diversos rios, que nem sempre comportam o volume das águas, principalmente pelas obstruções causadas pela poluição.
           Não há como impedir nem desviar o curso das chuvas. Por outro lado, pouco há o que se fazer com as estruturas geográficas das cidades serranas, bem como impedir que tantas pessoas se abriguem em certas áreas, mais propensas a esses desastres. Mas há como diminuir as tragédias e alagamentos, com atitudes simples e comuns a todos nós. Aquelas das quais ouvimos falar desde o jardim da infância, mas que até hoje não aprendemos, que estão na lista dos exercícios de cidadania, mas ainda não desenvolvemos o espirito cidadão. Qual de nós não desenhou ou escreveu em nosso caderno escolar, expressões do tipo: Não jogar lixo nas ruas, nos rios e mares? Pois é, como diria o Beto Guedes, “a lição sabemos de cor, só nos resta aprender”. E como precisamos aprender sobre o que sabemos!
           Precisamos aprender a questionar antes de apontar. A compreender os porquês antes de banalizar os fatos. Este é um momento de consternação, mas também é uma ocasião para refletirmos nossas ações e nos manifestar sem o sensacionalismo, comum a essas eventualidades.
             O trabalho de conscientização é tão relevante quanto o de restauração e construção de melhorias físicas. Para exemplificar essa importância, alguns pontos da cidade ficaram alagados por causa do entupimento dos bueiros, meios essenciais para o escoamento das águas. Se o descarte e a coleta do lixo fossem adequados, certamente o alagamento seria evitado. Não estou isentando os poderes públicos de seus deveres, mas não basta construir melhorias, é preciso utilizá-las e preservá-las.
              É preciso que se cobre dos governos politicas publicas e ações eficazes para a prevenção dos desastres ocasionados pelas enchentes, mas de forma consciente, com isenção de politica partidária e de problemas pessoas. É de politicas humanitárias que a sociedade precisa. Somente as ações conjuntas entre população e governos poderão atingir as melhorias que a sociedade necessita. Cada um fazendo a parte que lhe é pertinente.

Ivone Alves Sol
Escritora baiana, radicada em Petrópolis.




Imagem do Google

Mouses do Planalto


Quem pensa que o Mouse adora estar nas mãos do mundo inteiro, se metendo em tudo, desvendando segredos, criando encrencas, está muito enganado. Claro, existem algumas mãos que lhe calham bem, mas tem outras que se ele pudesse, já teria clicado uma LER, mas essa ação está mais para o seu companheiro teclado.

Certo dia, depois de penetrar em vários mundos, é acionado em Brasília para uma missão quase que impossível, descobrir no Google, seu universo mais percorrido, uma receita para mudar a massa das pizzas utilizadas no final dos julgamentos no Congresso. Ele encontrara ingredientes diferentes, mas o modo de fazer era sempre o mesmo.

O Mouse ficara desapontado por não cumprir sua missão por completo e colocou a culpa no Google:

- Aff! Sua credibilidade é mais vulnerável que as CPIs do Planalto, têm muitos recursos, mas as fontes...

- Pare com esses clicks! Eu já lhe dei tudo que eles precisam: novos ingredientes – replicou o Google, com uma postura de quem sabe o que diz. 

- Tudo bem, eu sou apenas um pequeno instrumento a serviço das mãos de todo o mundo – completou o Mouse com a submissão que lhe é peculiar.

Brasília, sem dúvida, é o ultimo lugar que o Mouse gostaria de atuar. São tantas manobras que mesmo estando desvencilhado de seus fios, pelos avanços tecnológicos, não consegue alcança-las. Depois, é lá que vivem outros tipos de mouses, de origens não tecnológicas.

A rotina do exigidíssimo companheiro na poderosa cidade poderia ser pior, se não fosse seus momentos de extrema diversão nas mãos de uma assessora parlamentar, que nos momentos vagos (maior parte do dia) troca informações com o adversário politico de seu chefão, em troca de boas noitadas em hotéis 5 estrelas. Isso é moleza para o Mouse, e o Google sempre lhe dá as melhores dicas.

- Vamos companheiro Google, mostre-me a suíte, adoro abrir as fantasias!

- O Sistema está fora do ar, tente mais tarde...

- Ah, logo agora, na parte que mais gosto!

- Culpa da operadora, companheiro, sugiro a implantação de uma CPI.

- Não, isso não! Pizza novamente, nem pensar!!!

Ivone Alves Sol






 
Imagem do Google 


MUITA MERDA PRA VOCÊ
Quinto livro do qual eu era co-autora. Lançamento marcado – hora de divulgar nas redes sociais e convidar aos amigos. Assim foi feito. Muitos retornaram felicitando, outros confirmando presença, mas teve um que fora muito estranho, pra não dizer que me tirara do sério, melhor, açulara todo o meu sistema “raivotemperamental”.
Não era para menos, quem já se viu me desejar merda num momento tão especial! Como se não bastasse, me desejara muita merda! Puxa! Ele era um produtor cultural ao qual eu tinha muito respeito, inclusive, algumas vezes se mostrara interessado em produzir meu próximo livro. Embora ele fosse da cidade “Planalto”, não me parecia está no meio das sujeiras.
- *Maltides! Isso, Mal-ti-des! Vou contatá-la, ela é sua prima e minha amiga, vai descobrir o porquê dessa ofensa. Assim o fiz e, coitada da Maltides, não sabia se me pedia desculpa pelo primo, ou se começava a investigação. Ela ficara tão agnóstica quanto eu, parecia que estávamos falando de outra pessoa, não de meu amigo e seu primo.
Qual mesmo o Santo que se deve recorrer numa hora dessas, hein? Bem, eu nem pensei em Santo, eu estava mais propensa a um diabinho (rs), mas a Maltides, não! Ela recorreu ao Santo Universal.  Não! Não é Jesus Cristo, deixa o Cara fora dessa... Também não é propaganda, mas que o Santo Google ajuda, ajuda!
O telefone tocara e – Maltides! Por favor, amiga, porque ele fez isso comigo? Eu sempre o tratei bem, ele queria até produzir meu próximo livro, diz que foi um engano, diz... Maltides ria copiosamente e eu ficara mais confuso que sempre. – Eu também te desejo muita merda! – dissera Maltides num tom firme, mas camarada! Pensei em desligar o telefone, mas ponderei.
Maltides, ainda controlando o riso, me diz que encontrara o significado da expressão e que ele teria me desejado sorte. Isso mesmo! É assim que se deseja sorte no universo do teatro. No geral, dizem que a expressão é oriunda da França, mas há quem diga que é da Grécia Antiga. Em ambos os casos, a merda era o que indicava o número de expectadores em uma apresentação de teatro.
Depois dessa confusão toda, fui eu que gritei em bom tom uma merda que, com certeza, não tinha o mesmo significado da proferida pelo meu amigo. Se eu contei a ele?! Ah, tomara que dessa vez ele não me leia.
 
Ivone Alves Sol






SOLteira

Solteira!? Por opção, não é? Vai me dizer que você já não ouviu essas perguntas? Seguidas de outras, outras... Eu já perdi as contas. Mas a segunda sempre me intriga – Por opção, como assim? Ah, é isso! Ficar solteira ou solteiro, é uma questão de escolha. Entendi... Entendi!? Não, definitivamente não entendi.
Pode ocorrer um caso em um milhão, mas a maioria absoluta dos solteiros, por mais que insista em dizer o contrario, só se mantem assim até encontrar aquela pessoa... Aquela que, com apenas um olhar, dominará seu corpo, suas emoções, seu todo.
As estatísticas apontam um número crescente de solteiros em todo o mundo. Mas, isso se deve, penso, ao fato dos distintos nomes dados aos relacionamentos na atualidade. Deve-se também aos relacionamentos abertos, ao popularíssimo “ficar”, enfim, as pessoas acabam encontrando um jeito de não estarem sós, sem estarem compromissadas.
Bom isso, não? Seria perfeito se o nosso coração fosse no cérebro, mas ele hospeda no peito, e no peito esquerdo, para não nos dar o direito de escolhas, quando mexemos com seus batimentos.
Portanto, eu diria que solteirismo é um estado permanente de se pensar solto enquanto voa em direção ao que abruptamente lhe prende. Gosto de ser SOLteira, ou Sol inteira, inteiramente minha, para poder me soltar dentro de quem me tem.

Ivone Alves Sol

15 de agosto é um dia dedicado aos solteiros.





EGOÍSMO, QUEM NÃO O TEM?!
 
Um palavrão? Ou um xingamento desses que ninguém gosta de ouvir? Não, nem uma coisa nem outra. Embora a maioria das pessoas não goste ouvi-lo, principalmente quando este lhe objeta, o egoísmo é um sentimento peculiar a todos os mortais. Entretanto, é pertinente que se faça uma distinção ente o ser e o se comportar de forma egoísta. Mas, a confusão que se faz em relação a isso, não cabe em livro, muito menos em minha cabeça.
É comum se ouvir expressões do tipo:
- O amor não é egoísta...
- O mundo não gira em torno de ti...
- A vida tem que ser compartilhada...
- O egoísmo compromete qualquer relacionamento...
Ora, disso tudo, nós sabemos e, digamos que... em parte, concordamos! Mas convenhamos que além de serem expressões generalizadas, são conceitos. E como todos os conceitos, flexionam de acordo com a prática e o contexto.
Tudo bem, você pode não se incomodar em compartilhar seu perfume francês com sua vizinha, sempre que ela for ver a namorado; não se importar com o fato de sua mãe sempre priorizar a sua irmã; quando tem apenas dois ingressos para irem ao cinema; ou até mesmo convidar o melhor amigo de sua mulher para dormir com vocês na mesma cama...
Ainda assim, existirão coisas que você não dividirá com ninguém; um momento que você o queira absolutamente como seu; e, certamente, doerá em você o fato de ser preterido(a) por alguém a quem ama, simplesmente por outra pessoa ocupar um lugar que o quisera seu.
Nesses momentos meu coração é egoísta e minha cabeça também. Meu mundo fica pequeno e não cabe conceitos moralistas, idéias sensacionalistas dos que pressionam por nunca impressionar.
Ou você vai me dizer que não quer ser aquele(a) sempre lembrado(a) na música preferida, no poema de amor, na mensagem contida nos olhos de quem você ama? Ou que nunca se trancou em seu quarto, se distanciou de todos em uma praia, só para se sentir dono(a) daquele espaço?
Se você nunca fez nada disso, é você quem é o verdadeiro egoísta por deter uma postura divina e não dividir com ninguém – Se é que se pode considerar Deus, indene ao egoísmo.

Ivone Alves Sol